3/01/2008

Quarenta anos de Caminhando

Hoje me bateu uma saudade danada do cantor/compositor paraibano Geraldo Vandré. Ele mesmo, aquele que compôs Caminhando ou Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores para o Festival Internacional da Canção de 1968. Depois dessa canção, atraiu mais ainda o ódio que os militares sentiam por ele. Mas o público foi ao delírio.
Estava selada a sorte do artista, que teve de fugir do país.Naquele dia ele se apresentou sozinho no palco, apenas com o seu violão, contra orquestras e conjuntos dos outros concorrentes. Antes, em 1966, havia composto Disparada, em parceria com Théo Barros, inscrita para o Festival da Record com o subtítulo de Moda Para Viola e Aço. Não venceu o festival, pois empatou com A Banda, de Chico Buarque de Hollanda.
No exílio Vandré perambulou, sofreu, morou no Chile, na França, escreveu um livro nunca publicado e compôs várias canções. A cabeça estava ruim, a saudade do Brasil o torturava. Os ditadores militares fizeram um acordo e ele voltou para não mais gravar ou cantar (fez apenas alguns shows esporádicos nos anos 80 e 90), devido a uma imposição do regime.
Nascido em em 12 de setembro de 1935, Geraldo Vandregísilo chegou a estudar em Nazaré da Mata, interior de Pernambuco. Depois, voltou para João Pessoa, para continuar os estudos, mas quando lhe perguntavam o que ele queria ser, respondia enfático: "Cantor de rádio". Seu pai José, então lhe dizia: "Meu filho, você pode ser o que quiser: jogador de futebol, cantor de rádio, seja lá o que fôr. Mas tem que se formar primeiro". Ele se formou e garantiu um emprego.
No mês passado os paraibanos lhe prestaram uma homenagem bem merecida. Hoje, o artista é um cidadão pacato, mas com mil idéias na cabeça. Não pensa mais na carreira artística, mas deve se deleitar quando escuta alguém interpretar suas canções. "Nunca fui torturado pela ditadura", disse ele quando voltou do exílio. Tentei levar um papo com ele por telefone, mas não adiantou. Vandré se tornou arredio.

PENSAMENTO MUSICAL
"Vim de longe, vou mais longe. Quem tem fé vai me esperar. Escrevendo numa conta.Pra junto a gente cobrar. No dia que já vem vindo. Que esse mundo vai virar.... Marinheiro, marinheiro. Quero ver você no mar. Eu também sou marinheiro. Eu também sei governar. Madeira de dar em doido. Vai descer até quebrar: é a volta do cipó de arureira. No lombo de quem mandou dar" (Geraldo Vandré)

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