1/30/2008

Saudade do Seu Luiz

Hoje me bateu uma saudade danada de Luiz Gonzaga. Só conheci o velho Lua quando ele já caminhava para a reta final de sua vida. Eu costumava visitá-lo em seu apartamento, em Boa Viagem. De vez em quando eu pintava por lá no final da tarde, ou então quando terminava meu expediente no Diario de Pernambuco.
Sua segunda mulher, Deuzuita, ficava ao seu lado no sofá da sala enquanto nós trocávamos idéias sobre a vida e o forró. Seu Gonzaga estava mal, mas fazia questão de manter a pose. Às vezes, quando eu chegava, ele me chamava para o quarto. Um dia, lá estava ele, encolhido sobre a cama, sentindo muitas dores: "Meu filho, hoje não estou me sentindo bem. Dá pra você me ajudar a sentar na cadeira de rodas?". Com esforço, consegui colocá-lo na cadeira, e ele me pediu que o levasse até o janelão que dava para o jardim do prédio. Naquele dia chovia muito, e quando ele sentiu o cheiro de terra molhada, fez um grande esforço e ficou de pé, com os olhos marejados de lágrimas: "Estou com saudade da minha Exu... Acho que vou até lá", disse ele, enxugando o rosto.
Algumas semanas se passaram quando me avisaram que Luiz Gonzaga faria um show no Teatro Guararapes do Centro de Convenções. Seria sua última aparição em público, mas o velho Gonzaga não sabia, ou não aceitava a situação. Ainda sonhava com os shows que realizaria pelo Nordeste. Eu fiquei nos bastidores e vi Gonzagão chegar sentado na cadeira de rodas. Ele trincava os dentes e gemia baixinho. Nos bastidores tinha uma multidão de jornalistas, amigos e parentes, e ele, embora sofrendo, abria-se num largo sorriso.
Nos camarins, lotado de gente, caí na besteira de perguntar: "O que o senhor acha do show, Seu Luiz". E ele: "Como posso achar alguma coisa se nem fiz o show ainda?". Todo mundo caiu na maior risada. Fiquei calado, olhando para o velho Gonzaga, que se preocupava com o público: "Tem muita gente? Será que vai encher?". O espetáculo foi legal, com participações especiais de vários artistas. Depois do espetáculo, me mandei sem falar com ele. Semanas depois soube que ele estava internado no hospital. "Como eu queria ter conhecido Seu Luiz bem antes da doença lhe tomar conta do corpo", pensei. Mas, valeu muito conhecer o Rei do Baião. Foi uma lição de vida para mim.

Um comentário:

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é um prazer falar com vc sou fã de forró, meu pai é do sertão e eu e meu irmão erdamos uma das maiores virtudes cultural da vida q é a cultura nordestina.
sou fã de Jackson e luiz Gonzaga
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