2/11/2008

Lá em casa todo mundo é bamba



Alô! Alô! Dona Tetéia! Avisa pro Marone que, quando a maré não está pra peixe é que se deve sair pra pescar! Falei? É o seguinte: Um dia fui entrevistar o Martinho da Villa. Estava marcada para as 19h. Lá fui eu com o velho e funcional gravador. Cheguei e fiquei com o finado Mekeko tomando umas cervejas enquanto o sambista descia de seu apartamento. As horas se passaram e nada de Martinho aparecer.
Lá para as 21h finalmente ele deu as caras nas escadarias. Olhou para o Mekeko e fez de conta que eu não estava lá: "Mekeko -disse ele, com aquela voz malandra - Vamos sair e comer uma macaxeira com carne de xarque". Olhei para Mekeko, que respondeu ao cantor: "Mas o jornalista aqui está lhe esperando para uma entrevista". Martinho: "Ah! Não! Vamos é comer uma macaxeira e tomar uma!". Eu: "Porra! Estou aqui lhe esperando e você não vai dar a entrevista? Só saio daqui depois de realizar o meu trabalho!".
Martinho olhou pra mim com um sorriso debochado: "O pernambuco aí vai terminar mostrando uma faca". "Não preciso chegar a tanto, Martinho, mas só saio daqui com a entrevista", respondi. Depois de muito bate-boca chegamos a um acordo graças ao Mekeko, que era um grandão da gravadora RCA Victor (hoje BMG-Ariola, eu acho). Sapequei a pergunta:"Você era sargento do Exército na época da ditadura. Chegou a participar de alguma tortura, ou a presenciar alguma?". Ele olhou para mim arretado da vida: "Você tá pensando que sou o quê, rapaz? Não torturei ninguém não. O que é isso?". A pergunta tinha sido provocativa.
Mudei o assunto e fui na base de pergunta-release, quando a gente quer saber a vida artística do cara em questão. Mas resolvi provocar de novo: "Qual a diferença entre o racismo no Brasil e na África do Sul, já que você esteve lá". Ele me olhou, pensou um pouco e respondeu: "Lá é igual aqui. Não tem muita diferença não". Eu fiquei meio arretado de novo, senti que eu e Martinho não fomos com a cara um do outro. "Né igual não, Martinho. Olhe em volta (estávamos no restaurante do hotel), aqui o único negro é você (como se eu fosse de cor branca). Na África você não viveria entre os brancos tão traquilamente (naquela época Nelson Mandela ainda estava preso). "Não respondo mais nada", afirmou o artista, se mandando do local, deixando eu e Mekeo a ver navios.
Hoje, muitos anos depois, olho para trás e vejo o quanto fui grosseiro com o cara. Um artista que admiro e do qual sou fã. Mas naquela época eu endava de pavio curto. E o aquieta e arreda foi fatal. Brigamos e nunca mais tive a oportunidade de lhe pedir desculpas.
Mudando o dial: Brian May anda lembrando que a banda Queen está trabalhando duro na sequência para o musical We Will Rock You. Terminand: Olha a contagem regressiva! Vou partir pra outro recanto e prometo ficar recatado. Valeu!!!!!!

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