Carnaval me lembra? Carnaval, lógico. E foi numa semana pré, em plena sexta-feira, que recebi um telefonema de um cantor baiano amigo meu, que estava no Recife para fazer shows durante o período de Momo, na Av. Guararapes. "Wilde? Como vai, meu irmão". Perguntei quem era, e ele se indentificou. A voz não estava legal. Tava meio pastosa. "O que é que você tem,véio?". "Tô precisando de um charuto da erva, meu irmão". Respondeu, respirando fundo. "Ontem saí com o governador e o presidente da Fundação de Culrtura e os caras só enchiam a cara de uísque, Wilde! Não apareceu nenhum fuminho".
Eu fiquei pensando por alguns minutos. Meu amigo estava mal. Precisava urgente de um bom e velho cigarro que não vende em buteco, nem em fiteiro. "Meu irmão, posso abrir um papo bem novos baianos?". "Pode, cara!". Respondi já meio ansioso para salvar o amigo. "Cê pode quebrar esse galho pra mim?". Respondi que sim. Desliguei o telefone. Depois liguei para uns amigos que me podiam arranjar o fumo. Finalmente um deles se prontificou a me arranjar, contanto que eu fosse até o local marcado na cidade. Ele tava tocando numa lancha, entre as pontes da Boa Vista e Duarte Coelho.
Quando me aproximei e subi sobre a grama que margeia o rio, levantei os braços. Lá do barco ele me viu. "Arranjei a mercadoria, Wilde!!!!". Gritou ele pra todo mundo ouvir. Bem, um cara vestido de pirata pegou um bote e veio até onde eu estava. Eu tive que me deitar na grama e estender a mão para pegar o bagulho. Todo mundo com uns olhões arregalados, olhando para mim. Sorri meio sem jeito, guardei o charutaço e me mandei para o hotel. Chegando lá, subi e fui até o apartamento. A mulher dele me recebeu: "Ele tá na cama, e bem mal". Fui até onde meu amigo estava, todo encolhido. Quando estendi a mercadoria ele disse com a voz entrecortada: "Meu irmão! Você conseguiu? Que barato!". Ali mesmo fez um cigarrinho, fumou, tragou e voltou a ficar numa boa. No show daquela noite, que eu assisti, ele estava maravilhoso. Foi um dos melhores shows do carnaval daquela segunda metade da década de 90. Valeu! Uma vez na vida eu servi de avião por uma boa causa.
PENSAMENTO MUSICAL
"Me dá o lenço, Mandarin. Bota um pouquinho desse cheirinho pra mim. Bote, bote, bote mais um bocadinho. Com esse cheiro eu vou pro céu devagarinho". (Jackson do Pandeiro)
1/20/2008
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